terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Entrevista com Adil Amarante


Em entrevista com Adil Amarante: ''Respira-se futsal no Nagoya''

adil amarante futsal
Adil Amarante, técnico do Nagoya Ocean's

Adil Amarante, actual treinador do Nagoya Oceans do Japão em entrevista exclusiva e em discurso directo ao nosso site admite que a partir de Março estará livre para assumir um novo compromisso. Apresenta-se feliz com o que faz. O reconhecido e talentoso técnico confessa-se um homem de desafios. Assume e admite mas com muito trabalho, sem receios e sem virar a cara à luta que tem tido todas as condições para alcançar os objectivos propostos no Nagoya, mantendo sempre a mesma ambição que o tem marcado ao longo do seu percurso.

A poucos meses do fim da sua 5ª e última época na F-League, Adil Amarante fala-nos da sua adaptação ao clube, ao país e do trabalho que foi feito neste longo percurso. O treinador luso-brasileiro não se mostra preocupado quanto ao que ainda resta por conquistar esta época, afirmando que a equipa tem todas as condições para atingir os objectivos a que se propôs no inicio. Adil esteve vários anos em Portugal, passando por clubes como a Académica, Colégio Pereira da Costa, Instituto D. João V, e Benfica onde conquistou campeonatos, Taças e Supertaças nacionais.

"Em Portugal a chegada ao Benfica, deve-se ao facto de ter feito um bom trabalho nas equipas anteriores que passei"

Ficha Técnica:
Nome: José Adil Amarante
Idade: 46 Anos
Data de nascimento: 14/12/65
Nacionalidade: Luso-Brasileira
Naturalidade: Esmeralda RS - Brasil
Altura: 1.80m
Peso: 93 kg
Estado civil: Casado
Clubes que já treinou: A.A. Bangu; A.A. Malharia Guerra; A.A. Enxuta; A.A. Distinta; Vasco da Gama F.C.; A.A. Coimbra/ OAF; Colégio Dr. Luís Pereira da Costa; Instituto D. João V; Sporting Clube de Pombal; Sport Lisboa e Benfica e Nagoya Oceans.

Títulos:
Campeão da Oceans Arena Cup – Japan – Nagoya Oceans, 2012
3º Lugar AFC Futsal Club Championship Kuwait – Nagoya Oceans, 2012
Campeão da F-League – Japan – Nagoya Oceans, 2011/2012
Campeão da Oceans Arena Cup – Japan – Nagoya Oceans, 2011
Campeão da AFC Futsal Club Championship Qatar – Nagoya Oceans, 2011
Campeão da F League – Japan – Nagoya Oceans, 2010/2011
3º Lugar AFC Futsal Club Championship Iran – Nagoya Oceans, 2010
Campeão da F League – Japan – Nagoya Oceans, 2009/2010
Campeão da Oceans Arena Cup – Japan – Nagoya Oceans, 2010
Vice-Campeão da Puma Cup – Japan – Nagoya Oceans, 2009
Campeão da F League – Japan – Nagoya Oceans, 2008/2009

Modalidades.com.pt: Pedimos que faça uma análise da sua carreira como treinador, incidindo nas últimas épocas (Benfica e Nagoya).

Adil Amarante: Em Portugal a chegada ao Benfica, deve-se ao facto de ter feito um bom trabalho nas equipas anteriores que passei. No Benfica como já referi em entrevistas anteriores, foi possível reunir todas as condições para implementar aquilo que penso sobre futsal no ponto de vista de metodologia de treino, já em termos de organização e outros pontos tivemos muitas dificuldades, mas que não impediram de conseguir aquilo que conseguimos naqueles 3 anos e meio. Conseguimos criar um grupo forte e que também começou a ver futsal de uma outra maneira do ponto de vista de metodologia de trabalho e que foi responsável pelo êxito que tive nesse tempo. No Nagoya, trabalhar num clube que só respira futsal foi muito bom e apesar das dificuldades com cultura e língua, foi fácil de colocar em prática aquilo que penso sobre futsal. Hoje vendo vídeos de jogos da nossa equipa e mesmo da F-League de 5 anos atrás e os jogos de hoje fico extremamente satisfeito com a evolução efectuada. Foram alcançados todos os objetivos que me foram propostos quando da minha contratação e isso me deixa completamente realizado. Penso que a única coisa que falta é um pouco mais de intercâmbio internacional que não nos foi possível por não termos conseguido, por causa do calendário, participar das Taças Intercontinentais que tínhamos direito de jogar.

Como se sente no papel de treinador de uma equipa como o Nagoya?

Acho que a melhor palavra para descrever isso chama-se realizado. Ver a evolução dos jogadores e dofutsal no Japão é extremamente gratificante e depois trabalhar com jogadores que sempre estão dispostos a evoluir, incluindo nisso os estrangeiros é muito bom. O papel deles nesse processo de evolução e inclusive na minha, porque acho que hoje também estou um pouco melhor do que anos atrás, foi muito importante. Isso tudo contribui para que esteja realizado.

Como é que a sua família e amigos reagem à distância?

Desde os 16 anos de idade que já estou fora de casa e desde muito cedo a gente teve que aprender a lidar com isso. Há períodos que a saudade aperta mais, principalmente naqueles dias sombrios de Inverno e quando se aproximam as festas de final de ano, mas hoje com toda essa tecnologia de comunicação torna as coisas melhores. Aliás, bem melhores do que quando sai com 16 anos que era somente por carta, pois até telefone tinha as suas restrições e demorava alguns dias para receber noticias. Outro período muito difícil é o final das épocas, onde a nós já estamos algo saturados de um ano cheio e somente as férias e a companhia dos amigos e familiares é que ajudam a recarregar baterias para um novo ciclo.
adil amarante nagoya
Adil com o troféu conquistado
Quais são os seus limites a nível profissional?

Isso é muito difícil de responder. Vamos traçando objectivos e vão surgindo novos desafios e aquela busca constante por melhorar, evoluir. Vamos sempre correndo atrás disso e nunca se sabe onde e quando vamos parar.

Que perspectivas tem para o que ainda resta desta época, que se aproxima do fim?

Os objectivos estão bem definidos que é vencer novamente a F-League e a Puma Cup. A equipa vem apresentando-se num bom nível, queremos manter e se possível aumentar ainda mais a nossa qualidade de trabalho. As nossas perspectivas são cumprir os objetivos.

Pensa que a equipa está preparada para os desafios que ainda faltam e se aproximam?

Trabalhamos sempre para isso e com esse objectivo de estarmos preparados para todas as dificuldades que nos impuserem e até o momento isso tem acontecido.

O que acha que foi mais relevante em termos de conseguir implementar no modelo de jogo e no próprio clube, Nagoya?

É muito difícil você classificar somente uma coisa. Foi uma mudança muito grande e apesar de já existir futsal e profissionais anteriores a trabalhar na equipa, foi um desbravar caminho. Quando você encontra muitas desculpas para não se implementar alguma coisa por questões culturais é muito difícil. Mudar muitas coisas e acrescentar outras durante esses anos foi muito duro. Temos várias lacunas ainda para preencher, que eu não consegui e vou sair daqui sem conseguir. Sinceramente não sei te responder o que foi mais relevante.

"Não existe sucesso se não tivermos um balneário saudável e unido e penso que tenho até hoje conseguido isso nas minhas equipas. Se isso não acontecer ou sai a fruta podre do cesto ou saio eu."

É complicado gerir um plantel tão rico como o do Nagoya onde tem também o complemento da formação bem presente?

Sempre disse que o mais difícil é gerir grupos, pessoas. Quando cheguei foi complicado porque do grupo todo, somente o Sidnei foi minha indicação e jogador que conhecia. Aqui no Japão as equipas tinham e algumas ainda têm, plantéis com 19, 20 jogadores e eu não conhecia ninguém. Alguns com restrições quanto a estrangeiros, outros sem aquele compromisso profissional que pretendíamos e outros com muita vontade de aprender e evoluir. No final dessa época fizemos uma faxina no balneário como se diz. A partir daí fui muito criterioso na escolha principalmente dos estrangeiros que viriam fazer parte do grupo. A cada época trazia jogadores com características diferentes para ajudar na implementação e evolução do nosso modelo de jogo e evolução individual dos jogadores japoneses, tendo esses estrangeiros como referência. Mas o segredo do nosso êxito foi sempre ter estrangeiros que traziam os japoneses para o convívio o que ajudou muito nesse espírito de grupo. Apesar deles serem mais reservados conseguimos sempre que existisse esse comprometimento de união, e que independente dos jogadores renomados e com grande história dentro do futsal as 'estrelas' eram e sempre serão aquelas que conseguimos colocar e ainda colocaremos em cima do escudo da equipa. Não existe sucesso se não tivermos um balneário saudável e unido e penso que tenho até hoje conseguido isso nas minhas equipas. Se isso não acontecer ou sai a fruta podre do cesto ou saio eu.

Já tomou a decisão quanto ao seu futuro como treinador? Vai permanecer no Nagoya e por terras nipónicas?

Sim, já está decidido. Em Março acaba meu contrato com o Nagoya Oceans e não continuarei no clube. Estarei livre para novos compromissos e desafios.

Há algum jogador que lhe chame mais a atenção por algum motivo de um modo geral?

Se eu fosse fazer uma análise detalhada sobre isso, teria que falar de todos e acho que daria para escrever um livro. Falarei de alguns.
Kaoru Morioka: Tem uma história muito curiosa, surgiu para o futsal de alto nível com 27, 28 anos e nesses 5 anos teve uma evolução incrível. O último campeonato do mundo na Tailândia serve muito bem como cartão-de-visita.

Rafael Henmi: Faz-me lembrar o Ricardinho porque tem uma história parecida na minha carreira. Começou comigo com 16 anos e agora com 20 anos foi nesse ano, 2012, considerado o melhor jogador de futsal da Ásia. Se tiver juízo e dedicação pode construir uma grande carreira.

Rafael Sakai: Não foi minha indicação para o Nagoya Oceans, mas chegou impôs-se como o grande profissional que é. Jogador com um espírito de sacrifício que é difícil descrever e que coloca tudo em prol do grupo, colocando muitas vezes em risco até a sua integridade física como já fez quando vencemos a Copa da Ásia e como vem fazendo nessa época.

Pedro Costa: Já tinha trabalhado com ele no Benfica e esse retorno dele ao meu grupo de trabalho trouxe-me um Costa cada vez mais comprometido com o futsal bem jogado e trabalhado. Sem dúvidas será um grande treinador.

Ricardo Braga: Como já escrevi no facebook, para mim sempre o Ricardinho. Estive, penso eu que seja no pior momento de sua carreira, quando ainda muito jovem num estágio em Bragança, fracturou a perna. Mas também tive o privilégio de estar em grandes momentos da sua carreira como a eleição de melhor do mundo pelo futsal planet e agora na bola de bronze no último mundial. Como descrever um jogador desses? Para mim o melhor do mundo e hoje um jogador muito mais completo e comprometido com as abordagens tácticas, o que o torna um jogador diferenciado.

Sinto é uma enorme pena de não continuar a trabalhar com jogadores como estes.

Conhece bem a sua actual realidade em termos de condições. O pavilhão do Nagoya Oceans TEVA  onde trabalham supera aquilo que é exigido? O que tem a dizer sobre as condições de trabalho no Nagoya?

A Oceans Arena só pelo simples facto de servir somente ao futsal já é excelente. Aqui para ser completo necessitaria apenas de um tanque ou mini piscina para trabalhos de recuperação a nível de fisioterapia e complemento de treino. Temos praticamente tudo aquilo que necessitamos para o trabalho. Agora longe de mim reclamar disso, pois a nível material temos totais e excelentes condições para trabalhar, coisa que poucas equipes de futsal no mundo têm.

"No final dos jogos as equipas cumprimentam-se e vão cumprimentar as claques das equipas adversárias e são aplaudidos vencendo ou perdendo"

O que pensa do apoio dos adeptos no Japão?

Os adeptos japoneses são especiais. Nunca vi e tenho certeza que nunca verei o extremo respeito e admiração que eles têm pelos atletas e nós da comissão técnica. É certo que não são tão vibrantes pois são muito comedidos até na forma de festejar e participar dos jogos, mas participam a sua maneira e sempre em todos os lugares que vamos temos sempre pavilhões bem compostos com uma assistência excelente. Há pouco tempo em Portugal houve uma polémica acerca do policiamento nos jogos. Aqui isso é impensável, é o único lugar no mundo que a convivência com os adversários é feita de uma forma muito respeitável e sadia. No final dos jogos as equipas cumprimentam-se e vão cumprimentar as claques das equipas adversárias e são aplaudidos vencendo ou perdendo, em reconhecimento daquilo que fizeram em prol do que eles foram assistir que é o jogo, que para eles é um espectáculo. A equipa vencendo ou perdendo, após os jogos existe um número sem fim de crianças e adultos que fazem questão de estar connosco para tirar fotos, algumas assinaturas ou simplesmente para nos cumprimentar. Em outros lugares por muito menos já fui insultado e agredido, coisa que aqui até hoje não tenho conhecimento que tenha acontecido. Por isso tudo, considero esses adeptos, inclusive os das claques adversárias como especiais.

Tem alguma palavra a dizer a estes mesmos adeptos e em especial aos do Nagoya?

Simplesmente agradecer todo o respeito e carinho a mim dedicado nesses 5 anos. Tenho certeza que sentirei saudades disso e que não encontrarei em nenhum outro lugar.

Tendo em conta o conhecimento que tem da F-League e do Nagoya, pensa que esta equipa no futuro se manterá entre as favoritas?

Mesmo que as outras equipas invistam o Nagoya Oceans continuará como um dos favoritos aos títulos. Caso isso não aconteça, penso que essa diferença se acentuará cada vez mais como vem acontecendo nos últimos anos.

Acha que a equipa com esta sobrecarga por causa do desgaste de uma época longa e dos 6 jogadores utilizados no recente mundial poderá acusar algum desgaste na fase do play-off?

Penso que não. A resposta dada no último final de semana nos dois jogos da Central onde tivemos jogadores expulsos e a equipa realizou duas grandes exibições nos tranquiliza. Fizemos uma preparação pensando nisso e se não acontecer nada de anormal chegaremos numa boa condição aos play offs.
 
adil
Adil com o tradutor
Para si, quem são os principais adversários na luta pelo título?

Depois do que aconteceu na última central a luta ficará entre o Fuchu AC e o Shriker Osaka com o Deução Kobe um pouco mais em desvantagem, mas faltando 7 jogos essas 3 equipas lutam por duas vagas e tudo pode acontecer.

Um dos objectivos do Nagoya para esta época era a conquista da AFC Futsal Club Championship 2012. Foi difícil para a equipa encarar a eliminação na prova e ficar pelo terceiro lugar do pódio?

Segundo as decisões tomadas pelo General Manager Sakurai no final da época passada, não acredito que ele tivesse a Copa da Ásia como uma das prioridades para esse ano. Nas condições que fomos para essa disputa e mais o que aconteceu na competição com os casos de lesão, chegar ao terceiro lugar já foi muito, o que garante à equipa ir novamente à fase final sem passar pela fase de classificação. A dispensa de dois jogadores japoneses que foram fundamentais na conquista anterior e a mudança da regra que só permitia a utilização de somente um estrangeiro limitou a equipa e sabíamos que teríamos que ser enormes como fomos para fazer a campanha que fizemos. Vencer então, se conseguíssemos seria algo de excecional.

"A minha base, onde tenho minha casa, minha vida é Portugal. Em Março é para lá que voltarei e a partir dai veremos o nosso futuro"

Que mais-valias puderam trazer o Ricardinho e mais recentemente o Pedro Costa para a equipa?

O profissionalismo que serve de espelho para os jogadores mais jovens e da formação, a qualidade de trabalho e a garantia de espectáculo. Contribuem com a sua experiência e qualidade para que possamos incrementar e variar o nosso modelo de jogo. No último final de semana tivemos os dois jogadores que jogam a pivô expulsos, tivemos que utilizar padrões de 4:0 e a equipa assim o fez sem problemas, coisa que nos primeiros anos não utilizávamos. Como citei numa questão anterior a nossa escolha foi criteriosa na escolha desses jogadores, pois sabia que me ajudariam a implementar e auxiliar na evolução não só do nosso modelo de jogo como dos jogadores japoneses.
Mas acima de tudo porque partilham ideias semelhantes às minhas e vieram somar nesse balneário, ajudando na união e espírito de equipa. São jogadores também que são os primeiros a pregar que 'estrelas', são somente aquelas que colocamos em cima do escudo do clube, com isso e com esse exemplo fica mais fácil para implementarmos nosso trabalho.

Esteve vários anos em Portugal, criou certamente algumas raízes. O seu futuro passa novamente pelo futsal português ou tem outros planos, outras ambições?

Respondo sempre a mesma coisa em todas as entrevistas. A minha base, onde tenho minha casa, minha vida é Portugal. Em Março é para lá que voltarei e a partir dai veremos o nosso futuro.

Pondera vir a treinar alguma seleção?

Já recebi dois convites anteriormente, mas como gosto de levar até ao fim os meus contratos ou até enquanto os clubes me quiserem, acabei por recusar. Agora a partir de Março, quando estiver livre, se surgir alguma proposta estudarei com carinho.

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